domingo, 14 de outubro de 2012



Os olhos insistem em alagar. O coração aperta tanto que espreme tudo, e tudo quer sair num pinote do pulsar. As lembranças, do tipo visita indesejada de hora errada, teimam em tomar conta do pensamento, num egoísmo tão grande que mal deixa espaço pra outras pairar, e a tentativa de não se importar fracassa. A gente vai se segurando, segurando uma lágrima aqui, sufocando um sentimento ali, matando uma vontade acolá. E você vai achando que está tudo indo bem, que você tá no controle, interrompe uma lágrima hoje, outra amanhã. Deixa de falar, adia a conversa na véspera. Vira a cara, evita. E vai juntando, e vai somando. Aí, chega aquele dia que tudo vem à tona, tudo desce... desce as dores, cai a lágrima que aguardava a sua decida, os sentimentos guardados descem com a poeria pelo tempo estocado, as palavras viram um nó presa na garganta que não sobe e nem desce. Engana-se quem acha que se engana. O corpo cobra tudo, cada lágrima interrompida, cada sentimento silenciado. Nada deixa de existir, elas apenas se acumulam como chuva em represa, até o momento da enchente que transborda, e você se perde, você se afoga. Você chora, você não sabe como lidar. Você se sente impotente, porque nada do que você leu, viu ou aprendeu tem utilidade. Aquele livro, aquela música, as teorias que aparentam simples prática. A palavra daquele amigo confidente. Nada disso lhe servirá quando tudo resolver desmoronar, nada escapa. O jeito é deixar escorrer a lágrima, ecoar o grito, deixar fluir os sentimentos e chorar até a alma limpar, para depois dormir. Porque apesar de dura, a vida é justa e te dá um presente chamado "dia seguinte". O Dia seguinte, é a página branca que é nos dada pra reescrever, recomeçar e reinventar a vida com novas paisagens.

Leila Oliveira

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Fragmentos da Vida



A vida é imensa demais pra que ela dependa de algo ou alguém para ser vivida. A faculdade não é somente a sua vida, nem o trabalho, nem os pais, nem os amigos e nem o cachorrinho. A vida é um pedaço de cada uma dessas coisas, que quando falta alguma descompensa, mas não acaba. Alguém não pode ser sua vida, nem sua vida pode ser alguém. Não há como viver apenas para uma coisa só, porque a coisa não vive só para gente. Ela vive um pouco pra gente e outro pouco para outras. A vida é larga e cheia de possibilidades, não apegue-se apenas a uma, não faça da sua vida dependente de algo para que ela possa acontecer. Monte ela com um pedacinho de cada coisa que te faz bem, porque é com esses pedacinhos que ela acontece, e se faltar algum pedaço não pense que tudo acabou, porque no caminho outros pedacinhos vão surgir pra completar você. Faça do teu combustível de vida os pensamentos positivos, sorrisos e fé sempre, é assim que vida anda. Não desista das suas metas, não deixe nada na metade do caminho, seja o seu maior incentivo e motivo pra viver bem e satisfeito. 

Leila Oliveira

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sobre as conquistas


Somos conquistadores natos. Sentimos a necessidade em está sempre conquistando coisas e pessoas. Travando guerras diárias pela conquista de um amor, de um emprego, de um carro, uma casa, etc. Depois da coisa conquistada, somos direcionados a uma nova conquista. Quando deixamos escorrer que já estamos conquistados, a graça é perdida. A graça mora entre os extremos do querer e ter, a graça morre na boca do sucesso de uma conquista. Se não tem mais o que conquistar, não há mais pelo que lutar. No fim de uma conquista e de uma luta não se contenta com a paz, com a coisa parada. Somos guiados pela curiosidade, pelo que nos motiva a uma nova aquisição. E o que interessa é o que traz debaixo da roupa, o que tem atrás de um muro, o que vem junto com o dia seguinte, o resultado de um plano, as cartas do jogador, a ligação não atendida, a razão da mensagem não respondida. No que há por detrás da intenção da palavra e no fim do processo da maturação da fruta para ser comida e, por fim, saciar. Não há duração, não há um tempo determinado pra que o perfume da conquista cesse de exalar. Ela pode durar um dia ou toda uma vida. Portanto, não entregue os pontos, são os desafios que nos tiram do lugar, que desplantam os nossos pés. Não tenha pressa em conhecer o seu final, apenas deite, brinque e role nas entrelinhas.

Leila Oliveira

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Descostume

      Ilustração de Fernanda Guedes


Hoje, flagrei-me no descostume. Caí numa rede tecida pelo tempo desapressado, no desacostumar de suas labiosas verdades invertidas, que assopravam em meus ouvidos como afagos poéticos e florificado. Acho-me, agora, no descostume do lugar que a música que eu ouvia me levava na sua ausência. Sentada no chão, com as costas descansadas na parede do corredor. Olhos fechados e pensamentos 
transmutados em navegantes. Navengado em um mar de um mundo que eu criei, de cor vermelho vibrante. Um mundo de dois. Onde tudo era dois. Um para mim e outro pra você. Neste mundo meu, foi concebido, apenas, o direito de ser um ao sol e a lua. E eu senti. Peguei-me, no descostume dos seus olhos falantes, dos seus beijos matinais, ou de uma tarde dessas qualquer. Agora, aqui, me ponho a acostumar-me a essa boa nova que é o descostume de você. Hoje, o mundo é de um. De um copo, uma cadeira, uma escova e uma certeza. E foi concebido o direito de ser mais de um para as pessoas. Nele vem uma, vem duas, vem dez. Até um novo acostumar-se. 

Leila Oliveira

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A outra visão



Talvez, você que esteja agora lendo esse texto, tenha sentido isso que até hoje compartilhei com pouquíssimas pessoas, algo que eu sentia mas nem sabia que existia até um nome pra isso, um não, vários: desdobramento, projeção astral ou viagem astral. Já ouviu falar?
Venho sendo tomada por essa sensação desde criança, de ter, algumas vezes, até medo de dormir para não sentir. É o seguinte, você está dormindo e de repente você acorda e tenta se mover, abrir os olhos ou gritar, mas não consegue. Você ouve um zumbido constante e um formigamento no corpo, uma sensação horrível, como se algo tivesse te prendendo. Isso ainda não é nada. Por duas vezes até hoje, acreditem ou não, eu me vi dormindo, e se alguém me dissesse isso eu custaria a  acreditar se não tivesse, de fato, vivido essa experiência. Todas as duas foram depois dos 20 anos. Na primeira vez, eu estava sozinha em casa, eu dividia com um amigo e neste dia ele havia viajado e eu dormi sozinha, e pra não me senti tão só eu coloquei um colchão na sala e fiquei assistindo, acabando por adormencer, e quando dei por mim, eu estava inacreditavelmente flutuando no teto, vendo o meu corpo estendido no colchão, de bruços com uma das pernas levemente flexionada como de costume, e a minha camisola azul, estava deixando o meu corpo à mostra. Quando vi, tomei um choque e de imediato abri meus olhos, com medo de me mover, pensei: meu Deus, o que foi isso? Eu quero ver como está minhas costas... virei levemente a minha cabeça para o lado e vi o que eu não queria acreditar, minha perna estava flexionada e a camisola havia subido como eu havia visto. Imediatente, acodrei e comecei a ligar pra algumas amigas, pedindo pra irem dormir lá. Fiquei muito assustada. Aquilo não saia da minha cabeça. Estaria eu tendo alucinações? Sonhando? Mas era muito real...
Na segunda vez, eu estava no meu quarto, e de repente eu estava novamente flutuando, foi muito rápido, assim que me vi, fiquei assustada e acordei. Estava dormindo até de uma forma engraçada, que só meus íntimos amigos sabem. Com medo, não consegui dormir mais, corri pro quarto do meu amigo e disse a ele que havia acontecido de novo, ele dizia que eu estava tenho pesadelos e nada mais, e que eu evitasse assistir coisas que viesse a me impressionar.
Fora o medo, o que é normal, temermos o desconhecido, era uma sensação engraçada, na verdade indescritível. As sensações de antes, de tentar se mover, gritar e não conseguir que tenho desde criança, não atiçou tanto a minha curiosidade quanto essa de me ver domirndo, e fui atrás. Comecei a perguntar a alguns amigos, se eles já se sentiram assim, e um deles me disse que sim, e que isso se chamava projeção astral. Fiquei surpresa e aliviada, pelo menos não estava louca, ou se fosse loucura, que eu não seria a única a viajar na maionese, ou melhor, no astral.
Assim que soube disso, corri pro computador e iniciei minhas pesquisas. Joguei este nome no nosso querido de sempre, o Google, e fiquei "besta" com a quantidade de inforamações que existia na rede sobre isso, e eu não era a única, eu era uma das milhares e milhares de pessoas que provaram dessa experiência. Descobri que existiam outros nomes e que existe um monte de gente doidinhos pra ter uma única experiência dessa e ainda pagam e frequentam cursos para atingir o desdobramento(até me achei..rs). Porque, segundo as pilhas de coisas que li, algumas estimula, outras, como eu, ocorre de forma espontânea.
No caso, o que eu sentia desde criança era apenas o início do processo da projeção astral, e eu percebendo aquilo, impedia que ele fosse concluído tentando me mover. Mas, descobri se eu sentir isso e deixar que a sensação continue eu posso ter um desdobramento consciente e não só poder me ver, como sair andando por aí. Vi em milhares de relatos, pessoas que visitam parentes distante, andam pelas ruas, rodam pela casa. Relatos impressionante, difícil de acreditar. As sensações e os relatos são parecidos, ou até mesmo idênticos com o que vivi até agora. Parece que fique deslumbrada com essa descoberta, não é? Fiquei sim, mas com receio também. E o curioso que isso acontece com pessoas do mundo todo e de todas as crenças. Depois que começei a pesquisar, nunca mais aconteceu, e eu até prefiro assim, não que eu não goste, mas dá medo.
Vou citar aqui um trecho, que achei que tem tudo a ver com o que eu relatei aqui,  do livro Trabalhadores do mar, do escritor Victor Hugo, onde ele fala  do desdobramento de  uma forma poética:

O sono está em contato com o possível, que também chamamos o inverossímel. O mundo noturno é um mundo. A noite é um universo. O organismo material humano, sobre o qual pesa uma coluna atmosférica de 15 léguas de altura, chega a noite fatigado, cai de fraqueza, deita-se, repousa; fecham-se os olhos da carne; então, naquela cabeça adormecida, menos inerte do que se crê, abrem-se outros olhos, aparece o desconhecido. As coisas sombrias do mundo ignorado tornam-se vizinhas do homem ou porque haja verdadeira comunicação, ou porque as distâncias do abismo tenham crescimento visionário; parece que as criaturas invisíveis do espaço vem contemplar-nos curiosas a respeito da criatura da terra; uma criação fantasma sobe ou desce para nós, no meio de um crepúsculo; ante a nossa contemplação espectral, a vida que não é a nossa agrega-se e dissolve-se, composta de nós mesmos e de um elemento estranho; e aquele que dorme, nem completo vidente, nem completo inconsciente, entrevê as animalidades estranhas, as vegetações extraordinárias, as cores lívidas... todo esse mistério a que chamamos sonho e que não é mais do que a aproximação de uma realidade invisível. O sonho é o aquário da noite.

Eu acredito. Acredito não porque ouvi falar, acredito porque vivenciei, senti. A não ser que eu duvide de mim. E nem tenho a pretensão de convencer a ninguém de acreditar, a minha intenção é somente compartilhar. Cada um acredita no que quiser e no que lhe convir. Deixando claro, que eu não frequento igreja nenhuma, não participo de seitas, ou qualquer organização religiosa. Eu apenas acredito em Deus, na sua grandeza e no poder do seu amor sem titubear.  Acredito também, independentemente de qualquer religião, na existência do espírito, em vida depois dessa aqui. O universo guarda coisas que, talvez, nunca descobriremos.

Será a verdade da carne incontestável? É só isso e pronto, carne e pó, pó e carne? Eu penso que não, que a vida vai muito mais além do que possamos supor.

Leila Oliveira

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Do que fica



Enquanto a tua voz dança em meu ouvido, meus olhos dão-se as mãos e passeiam pelo teu corpo. Minha boca se confunde em teu aroma e minha língua te morde a orelha. Molho-te com beijos e seco-te com a língua. Minhas pernas faz da tua, entre elas, prisioneira. Num rítimo casado e acompanhado do descompassado compasso dos corações, como orquestra de baterias. Fazendo florescer flores fluorescentes nas pupilas que saltitam. Depois, de olhos fechados, pra ver que cor tem sentir-se assim arrepiada e levitante, dando beliscos na alma e mordendo vento. Pra no final, acender um cigarro e guardar a fumaça no bolso como lembrança do que não se pode mais ter, somente imaginar. O impossível, faz de morada a imaginação.

Leila Oliveira

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Compensa


Não vire a mesa. Quanto menos falar, menos saberão sobre você. Falar demais é como ficar nú diante de alguém, se preserve. Respire fundo e continue. A verdade que sabe leve com você, saber da verdade já te coloca no lucro. Não grite, não ironize. Silencie. Deixe o ar com o cheiro inquietante da dúvida. Agradeça pelo esclarecimento mentalmente, no máximo dê um sorriso e continue andando. O silêncio pra quem sabe usar na hora certa é coisa muito chique, e é pra poucos. Engolir o grito na véspera da boca é difícil, mas acredite, é compensador. 

Leila Oliveira

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Panorama



A minha cama às vezes é palco, outrora picadeiro e tem dias que vira poleiro. É carnaval e culto. É bossa, é dance, é samba. Entre garotas de Ipanema, tuntz tuntz e Zecas vou indo. Entre cabelos, penas e confetes eu vou dormindo. E há dias que a minha cama é apenas uma cama.

Leila Oliveira

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Passante


Ali surgiu um vagabundo jogado no mundo. Era mais zé ninguém do que ninguém. Por muitos tratado com desdém, mas das mulheres ele ouvia: me espera lá, que hoje tem. Querido dos cachorros e dos velhos da praça. Batia os quatro cantos da pequena cidade, perambulava cantarolando. De dormida misteriosa e despertada duvidosa, não entregava seu coração e nem mostrava sua direção. Caminhando torto, sempre de lado. Cabelo arrumado e cangote perfumado, cantava viúvas e mocinhas, cantava música e falava poesia. Não tinha trabalho, nem horário. Pouco aprendeu com o professor Raimundo, o que ele sabia aprendeu com o mundo. Aprendeu a degustar cachaça e a enrolar fumo, aprendeu a rolar dado e a escorregar baralho. Malandro e enrolado, quase sempre ganhava. Falava bonito, metido a conquistador e atrevido. Mal não passava. Conseguia beber onde devia e comia sempre o que gostava e nada gastava. Menina-moça-curada, aparece grávida. Quem foi que comeu? Viúvas, mal casadas, moças inocentes e rapazes. Nos cantos dos becos, no mato ou na estrada. Certa noite ele sumiu, dizem até que virou passarinho. A cidade ficou mais triste, a noite ficou saudosa e as moças lamentavam a sua falta. Era apenas um passante.

Leila Oliveira

domingo, 1 de julho de 2012


Pé lá, pé cá


É uma meia verdade, uma expectativa inteira e o risco do nada que vem. Mas a gente tenta, a gente aposta e a gente corre. Corre o risco, corre a mão, corre a boca, corre do querer e corre pra abraçar. Morrendo de sede e bebendo água em conta gotas. Se descabela e tem cautela.  A gente esconde, a gente mostra. Mostra o corpo, esconde a alma. Esconde a intenção de um coração. A gente levanta risos e voos, arriscamos passos largos e apertados. Vai e volta, fica ou vai embora. A gente espera. Espera que o bom aconteça, espera na porta. A gente só não espera nada. A gente joga, joga tudo pro alto, a gente joga beijo, joga tudo fora ou joga numa gaveta toda aquela vontade (in)contida. A gente se joga. A gente vai. Vai tentando, vai querendo, vai se afastando, vai chegando. Chegando perto pra quem chega de longe. A gente só não espera que nada aconteça. E eu, eu quero que aconteça, meia coisa ou ela toda. Basta apenas que você queira, que me queira e se queira. Vamos querer, meu bem. Vamos arriscar, arriscar e ver se vai dá. Dá bom, dá bem, dá mal. Mas tem que dá. Dá pé, dá fé, dá beijo, dá tu, dá eu, dá nós. Parará, caixinha de fósforo, et cetera. 

Leila Oliveira


sábado, 30 de junho de 2012

Desfolhar

 Assim como a árvore perde suas folhas e é podada pra crescer mais forte e bonita, precisamos deixar que nossas folhas secas caiam pra que nasçam as novas e podar os nossos galhos dos vícios, das vontades vaidosas e de certos apegos para podermos viver bem e melhor. Quando a árvore é podada ela não é nada bela, assim como nós quando cortamos nossos "galhos". Mas, com o tempo a árvore vai ficando folhosa, forte e bela, e com a gente penso que seja a mesma coisa.

Leila Oliveira

terça-feira, 26 de junho de 2012


Das Coisas Rasas 


Entramos numa casa, julgando primeiramente os seus portões e pintura. Se a pintura não agrada, não entramos. E às vezes perdemos o privilégio de conhecer uma casa grande, linda e aconchegante. Bem assim para entrarmos em alguém. Assim como a pintura da casa, julgamos suas roupas(se faz amor de roupas?), e perdemos a oportunidade de ver a beleza e a sinceridade que salta das pupilas, o pulsar de um bom coração, sentir a pele queimar e a descoberta de grandes ideias. A superficialidade é mesmo uma coisa terrível. 


Leila Oliveira

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Andarilho



Ando por estradas sinuosas, com atalhos confusos e retas intermináveis. Onde às vezes me perco e é cansativo andar, mas sempre encontro algo no trajeto que me motiva a tocar a marcha. No caminho, o sol acaricia  a minha cabeça, a chuva me abraça, o vento me toca e o frio faz com que eu me envolva em meus braços pra que eu encontre calor no meu interior. Quando eles acontecem em equilíbrio é maravilhoso, mas quando faz mais sol do que chuva, ou mais frio do que calor, faz penar. Às vezes ando tanto, tanto, tanto... e antes que o desânimo me pegue surgem flores para alegrar os olhos, um rio para matar a sede e molhar meu rosto e se tem sorte pode haver passarinhos cantando para acalmar o coração. Sem  acomodar-me neste rio, sigo caminhando. Subindo ladeiras, chutando pedras, comendo poeira, sentando, resmugando... mas aí aparece uma casinha bonitinha, onde sou convidada a entrar. Tomo café, como um bolo e durmo numa cama bem fofinha. Sou bem recebida, mas é preciso caminhar. Não dá pra ter guarda roupa e cama, nada que se fixe, só uma mochila nas costas, pra que você leve ou deixe alguma coisa, nada de ficar. Dou as mãos ao tempo e ele me leva, e não adianta querer ficar para trás, ele te arrasta. E se você insistir em ficar vai doer, porque o tempo vai te puxar pela orelha e dizer: bora, bora logo! Ele é amigo como o vento, embora não o vejamos ele nos toca, assim como o vento molda as dunas, o tempo toca, moldando nosso rosto e deixando suas marcas. Companheiro invisível e  constante. E vou seguindo. Tomando carreira de bicho bravo, enganando-me com frutos venenosos, caminhando até a exaustão e, quando tudo parece está de mal com você, você encontra na beira da estrada uma árvore grande, com uma sombra bem gostosa, pra que você encoste nela e descanse, mas só pra descansar, nada de ficar. Bora andando, a estrada não acabou, há muita coisa pra ser vista e sentida, há muitas risadas a serem dadas e lágrimas pra rolar. Ô, vida alegre! Ô, vida triste! Chega até ter graça. E não  importa o que aconteça, sempre haverá motivos para continuar e vez ou outra, verá que a vida vale a pena ser sentida.

Leila Oliveira

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

(Des)conhecido

Um desconhecido na minha cama. Tão visto pelos meus olhos, e tão cego para o meu coração. Não conheço os caminhos que passou, nem pelo qual está passando, só conheço os caminhos do seu corpo. É fim de festa. Perfume no fim, álcool, cigarro e sexo são os cheiros. Um estranho, que nada fala. A fala que eu conheço é a do seu corpo. A fala que pede, que se insinua, que pressiona, que respira forte. Um estranho que eu não amo, que não sinto carinho. Só curiosidade, tesão e a sensação da perda de tempo. Uma vontade que não fica. É a vontade que vem à noite e vai embora com o sol. No início quer saber pra onde aquilo vai, mas nada se sabe, nada se sabe de verdade nem de mentira. Vai ficando ali e depois acostuma. E o perigo está aí no ACOSTUMAR. E o costume é o aviso de saída, um belisco para a mudança.

A vontade no início veio e quis ficar, depois ela ia e vinha. Agora ela já foi. Tchau vontade, tchau costume, tchau desconhecido. Que coisa mais estranha. Olá, mudança!

Leila Oliveira

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Com tolerância, generosidade, criatividade e bom humor a gente vai levando, levantando, aparando, apertando... os amigos, a família, os amores e a vida.

Leila Oliveira