Os olhos insistem em alagar. O coração aperta tanto que espreme tudo, e tudo quer sair num pinote do pulsar. As lembranças, do tipo visita indesejada de hora errada, teimam em tomar conta do pensamento, num egoísmo tão grande que mal deixa espaço pra outras pairar, e a tentativa de não se importar fracassa. A gente vai se segurando, segurando uma lágrima aqui, sufocando um sentimento ali, matando uma vontade acolá. E você vai achando que está tudo indo bem, que você tá no controle, interrompe uma lágrima hoje, outra amanhã. Deixa de falar, adia a conversa na véspera. Vira a cara, evita. E vai juntando, e vai somando. Aí, chega aquele dia que tudo vem à tona, tudo desce... desce as dores, cai a lágrima que aguardava a sua decida, os sentimentos guardados descem com a poeria pelo tempo estocado, as palavras viram um nó presa na garganta que não sobe e nem desce. Engana-se quem acha que se engana. O corpo cobra tudo, cada lágrima interrompida, cada sentimento silenciado. Nada deixa de existir, elas apenas se acumulam como chuva em represa, até o momento da enchente que transborda, e você se perde, você se afoga. Você chora, você não sabe como lidar. Você se sente impotente, porque nada do que você leu, viu ou aprendeu tem utilidade. Aquele livro, aquela música, as teorias que aparentam simples prática. A palavra daquele amigo confidente. Nada disso lhe servirá quando tudo resolver desmoronar, nada escapa. O jeito é deixar escorrer a lágrima, ecoar o grito, deixar fluir os sentimentos e chorar até a alma limpar, para depois dormir. Porque apesar de dura, a vida é justa e te dá um presente chamado "dia seguinte". O Dia seguinte, é a página branca que é nos dada pra reescrever, recomeçar e reinventar a vida com novas paisagens.
Leila Oliveira