quarta-feira, 24 de abril de 2013

Despir-se ao avesso



Não vejo diferença entre escrever ou ficar nua na praça.
 Escrever é ficar nua ao avesso, expor veias, estômago, ossos, coração e o teor da mente. Ficar nua na praça é expor pele, peito, genital e bunda.
 A diferença está que uma é constatada pelos olhos e a outra pelos sentidos. 
Uns se chocam com o que sai de dentro, outros pelo que constata por fora. 
Suponho que escrever seja a nudez da alma. 


Leila Oliveira

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Do que vai, do que fica.

    
Sim, pode vir. Sem saber o que virá depois, recomeço ou fim. Porque a certeza de agora é esse nosso abraço terno, carregado de saudade acumulada dos dias que nos separou. Pode ser, esse, o nosso último abraço como amantes, outros poderão vir como amigos. Um querer que não pode ser querido, é contido. Contido pela falta de coragem de dá adeus ao que passou, preso num emaranhado de mágoas que te marcou. A saudade mora lá atrás, e se não se solta dessas amarras, nada assim se faz. Amarras, invisíveis, difíceis de romper, que te envolve em nós cegos. E lutar com o que não se ver, é guerra travada e talvez vencida. Esse presente vai virar passado e nele vai morar a saudade, aí você vai ver, vai saber o que hoje não é sabido. O que é dúvida vai confirmar, o que é turvo vai clarear, o inaudível vai virar música “A casa da saudade é o vazio, quem foge da saudade, preso por um fio, se afoga em outras águas, mas do mesmo rio...” Vai virar certeza, compreensão. Passado, vai ter nome de lembrança, de beijo e de abraço. Passado, vai virar amor, vai virar saudade. Passado, vai virar falta. Passado, vai virar aperto no coração, vai virar lágrima, vira até sorriso. Porque nem toda saudade é doída, tem saudade carregada de alegria. A saudade de alegria, é a saudade do que foi tido e foi vivido. A saudade triste é a saudade do que se teve, mas não pôde ser vivido. O passado, vai virar perdido. O tempo é quem nos conduzirá. Se nas cruzadas da vida nós iremos nos encontrar, colar. Ou se iremos nos perder, desprender. De vez. Um do outro d e s a p a r e c...


Leila Oliveira

sábado, 6 de abril de 2013

Contato interior



Você tem dúvidas que ama alguém? Então, vamos tentar descobrir de uma forma que não falha, sempre funcionou comigo, pois nossos sentimentos são fiéis a nós. Feche os olhos e imagine esta pessoa indo embora, embora para sempre. Tente imaginar na possibilidade de não mais estar com ela, de não poder vê-la, de não poder mais ouvi-la. E aí, sentiu um apertinho no coração, sentiu os olhos molharem? Um pequeno desespero? Então... qual é a sua dúvida agora? Quando penso em um amigo que eu gosto muito, minha família ou até mesmo alguém que eu não sei a medida do quanto sinto, pois sentimentos não imensuráveis, eu fechos os meu olhos, aperto e penso: como seria a minha vida se determinada pessoa não fizesse mais parte dela? E o meu coração responde algo, meus olhos, meu estômago... minha alma fala. Mas, também, já obtive silêncio como resposta e fui dormir, meu corpo não fez nada de involuntário fora do seu funcionamento normal, mas isso é raro acontecer. Ainda bem.

Leila Oliveira

domingo, 14 de outubro de 2012



Os olhos insistem em alagar. O coração aperta tanto que espreme tudo, e tudo quer sair num pinote do pulsar. As lembranças, do tipo visita indesejada de hora errada, teimam em tomar conta do pensamento, num egoísmo tão grande que mal deixa espaço pra outras pairar, e a tentativa de não se importar fracassa. A gente vai se segurando, segurando uma lágrima aqui, sufocando um sentimento ali, matando uma vontade acolá. E você vai achando que está tudo indo bem, que você tá no controle, interrompe uma lágrima hoje, outra amanhã. Deixa de falar, adia a conversa na véspera. Vira a cara, evita. E vai juntando, e vai somando. Aí, chega aquele dia que tudo vem à tona, tudo desce... desce as dores, cai a lágrima que aguardava a sua decida, os sentimentos guardados descem com a poeria pelo tempo estocado, as palavras viram um nó presa na garganta que não sobe e nem desce. Engana-se quem acha que se engana. O corpo cobra tudo, cada lágrima interrompida, cada sentimento silenciado. Nada deixa de existir, elas apenas se acumulam como chuva em represa, até o momento da enchente que transborda, e você se perde, você se afoga. Você chora, você não sabe como lidar. Você se sente impotente, porque nada do que você leu, viu ou aprendeu tem utilidade. Aquele livro, aquela música, as teorias que aparentam simples prática. A palavra daquele amigo confidente. Nada disso lhe servirá quando tudo resolver desmoronar, nada escapa. O jeito é deixar escorrer a lágrima, ecoar o grito, deixar fluir os sentimentos e chorar até a alma limpar, para depois dormir. Porque apesar de dura, a vida é justa e te dá um presente chamado "dia seguinte". O Dia seguinte, é a página branca que é nos dada pra reescrever, recomeçar e reinventar a vida com novas paisagens.

Leila Oliveira

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Fragmentos da Vida



A vida é imensa demais pra que ela dependa de algo ou alguém para ser vivida. A faculdade não é somente a sua vida, nem o trabalho, nem os pais, nem os amigos e nem o cachorrinho. A vida é um pedaço de cada uma dessas coisas, que quando falta alguma descompensa, mas não acaba. Alguém não pode ser sua vida, nem sua vida pode ser alguém. Não há como viver apenas para uma coisa só, porque a coisa não vive só para gente. Ela vive um pouco pra gente e outro pouco para outras. A vida é larga e cheia de possibilidades, não apegue-se apenas a uma, não faça da sua vida dependente de algo para que ela possa acontecer. Monte ela com um pedacinho de cada coisa que te faz bem, porque é com esses pedacinhos que ela acontece, e se faltar algum pedaço não pense que tudo acabou, porque no caminho outros pedacinhos vão surgir pra completar você. Faça do teu combustível de vida os pensamentos positivos, sorrisos e fé sempre, é assim que vida anda. Não desista das suas metas, não deixe nada na metade do caminho, seja o seu maior incentivo e motivo pra viver bem e satisfeito. 

Leila Oliveira

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sobre as conquistas


Somos conquistadores natos. Sentimos a necessidade em está sempre conquistando coisas e pessoas. Travando guerras diárias pela conquista de um amor, de um emprego, de um carro, uma casa, etc. Depois da coisa conquistada, somos direcionados a uma nova conquista. Quando deixamos escorrer que já estamos conquistados, a graça é perdida. A graça mora entre os extremos do querer e ter, a graça morre na boca do sucesso de uma conquista. Se não tem mais o que conquistar, não há mais pelo que lutar. No fim de uma conquista e de uma luta não se contenta com a paz, com a coisa parada. Somos guiados pela curiosidade, pelo que nos motiva a uma nova aquisição. E o que interessa é o que traz debaixo da roupa, o que tem atrás de um muro, o que vem junto com o dia seguinte, o resultado de um plano, as cartas do jogador, a ligação não atendida, a razão da mensagem não respondida. No que há por detrás da intenção da palavra e no fim do processo da maturação da fruta para ser comida e, por fim, saciar. Não há duração, não há um tempo determinado pra que o perfume da conquista cesse de exalar. Ela pode durar um dia ou toda uma vida. Portanto, não entregue os pontos, são os desafios que nos tiram do lugar, que desplantam os nossos pés. Não tenha pressa em conhecer o seu final, apenas deite, brinque e role nas entrelinhas.

Leila Oliveira

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Descostume

      Ilustração de Fernanda Guedes


Hoje, flagrei-me no descostume. Caí numa rede tecida pelo tempo desapressado, no desacostumar de suas labiosas verdades invertidas, que assopravam em meus ouvidos como afagos poéticos e florificado. Acho-me, agora, no descostume do lugar que a música que eu ouvia me levava na sua ausência. Sentada no chão, com as costas descansadas na parede do corredor. Olhos fechados e pensamentos 
transmutados em navegantes. Navengado em um mar de um mundo que eu criei, de cor vermelho vibrante. Um mundo de dois. Onde tudo era dois. Um para mim e outro pra você. Neste mundo meu, foi concebido, apenas, o direito de ser um ao sol e a lua. E eu senti. Peguei-me, no descostume dos seus olhos falantes, dos seus beijos matinais, ou de uma tarde dessas qualquer. Agora, aqui, me ponho a acostumar-me a essa boa nova que é o descostume de você. Hoje, o mundo é de um. De um copo, uma cadeira, uma escova e uma certeza. E foi concebido o direito de ser mais de um para as pessoas. Nele vem uma, vem duas, vem dez. Até um novo acostumar-se. 

Leila Oliveira