quinta-feira, 5 de julho de 2012

Passante


Ali surgiu um vagabundo jogado no mundo. Era mais zé ninguém do que ninguém. Por muitos tratado com desdém, mas das mulheres ele ouvia: me espera lá, que hoje tem. Querido dos cachorros e dos velhos da praça. Batia os quatro cantos da pequena cidade, perambulava cantarolando. De dormida misteriosa e despertada duvidosa, não entregava seu coração e nem mostrava sua direção. Caminhando torto, sempre de lado. Cabelo arrumado e cangote perfumado, cantava viúvas e mocinhas, cantava música e falava poesia. Não tinha trabalho, nem horário. Pouco aprendeu com o professor Raimundo, o que ele sabia aprendeu com o mundo. Aprendeu a degustar cachaça e a enrolar fumo, aprendeu a rolar dado e a escorregar baralho. Malandro e enrolado, quase sempre ganhava. Falava bonito, metido a conquistador e atrevido. Mal não passava. Conseguia beber onde devia e comia sempre o que gostava e nada gastava. Menina-moça-curada, aparece grávida. Quem foi que comeu? Viúvas, mal casadas, moças inocentes e rapazes. Nos cantos dos becos, no mato ou na estrada. Certa noite ele sumiu, dizem até que virou passarinho. A cidade ficou mais triste, a noite ficou saudosa e as moças lamentavam a sua falta. Era apenas um passante.

Leila Oliveira

5 comentários:

  1. Bonito, poético e criativo.

    Bom ler algo simples assim.

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  2. Olá Leila, Parabéns... é extraordinária a forma como você expressa suas emoções... Temos algo em comum. O amor pela escrita. Sucesso!

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    1. Obrigada, Thiago, pelo tempinho dedicado a leitura desse texto. Fico muito feliz e motivada a escrever mais com incentivos como este. Um abraço, volte sempre!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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